Zeros e uns


Eu comprei um livro que ainda estou devendo a leitura. Ele está aqui na minha estante, esperando pacientemente sua hora de ser lido. O título é “Código: a vida secreta dos computadores”, seu autor é Charles Petzold, matemático e um renomado autor de livros considerados como referência para o ecossistema Windows (Windows API, .NET e C#). Vou colocar uma imagem do livro abaixo:

Código: a vida secreta dos computadores

A premissa do livro é bem interessante, ele mostra de um jeito leve e curioso como nasce um computador, começando por coisas simples, como sinais de luz ou código Morse, e vai construindo passo a passo a lógica por trás dessas máquinas modernas. A ideia é revelar que, no fundo, tudo funciona a partir de combinações de “sim” e “não”, ou “ligado e desligado”, que se transformam em códigos, depois em circuitos, e daí em memória e processadores. No fim das contas, ele conta a história de como algo tão abstrato como um programa de computador tem raízes em conceitos muito básicos e até familiares do nosso dia a dia.

Um bit pode ser representado por dois estados: ligado ou desligado, um ou zero, verdadeiro ou falso. Já um Byte é formado por oito bits alinhados, na ordem das potências de 2. De 2⁰ até 2⁷. Somando todas as combinações de bits, você consegue gerar valores de 0 até 255, ou seja, 256 valores diferentes. Essa é a base de toda a história da computação.

Aqui você pode brincar um pouco com isso, clique nos zeros:

Simulador de Bytes

Valor decimal: 0

É daí que surgem os memes, como o do exemplo abaixo:
Existem 10 tipos de pessoas meme

Isso é uma coisa que todos nós, estudantes, profissionais ou entusiastas da TI, um dia aprendemos. Mas que, com a correria do dia a dia, acabamos deixando passar batido. Que tudo o que usamos — o perfil no LinkedIn, o saldo bancário, as séries da Netflix — nada mais são do que sequências de zeros e uns organizados em algum banco de dados. Para mim, isso é maravilhoso: perceber que por trás da complexidade do digital está um alicerce incrivelmente simples.

Eu gosto muito de brincar com o Arduino, quando programamos essa plaquinha a gente pode ver como os zeros e uns funcionam na prática.

/*
  Blink - O "Hello World" do Arduino  
  
  Pisca o LED conectado ao pino 13  
  Liga por 1 segundo, desliga por 1 segundo.  
*/  

void setup() {  
  // Configura o pino 13 como saída (OUTPUT)  
  pinMode(13, OUTPUT);  
}  
void loop() {  
  digitalWrite(13, HIGH);   // Liga o LED (tensão alta)  
  delay(1000);              // Espera 1000 milissegundos = 1 segundo  
  
  digitalWrite(13, LOW);    // Desliga o LED (tensão baixa)  
  delay(1000);              // Espera mais 1 segundo  
  
  // O loop() repete automaticamente enquanto o circuito estiver sendo alimentado  
}  

Arduino piscando um LED
E voilà!! Temos o nosso Blink rodando no Arduino.

Quando a gente fala em “zeros e uns” nos computadores, muita gente pensa em algo super abstrato. No Arduino, por exemplo, isso fica bem concreto: cada zero ou um é só uma tensão elétrica baixa ou alta. Um “1” lógico é como alimentar um pino com uma tensão alta, tipo 5V ou 3,3V, dependendo do modelo. Já o “0” é desligar, tensão próxima de zero. É tão simples que parece brincadeira, mas é exatamente assim que a magia digital começa: combinando esses altos e baixos, você utiliza portas lógicas, cria circuitos, e no fim… programas inteiros funcionando na sua frente. Ou seja, por trás da complexidade do software e dos gadgets que usamos todo dia, existem só essas “piscadinhas” de eletricidade. Não é incrível?

Se você quer mergulhar de verdade na magia do Arduino, recomendo muito os livros da minha amiga Gedeane Kenshima. Engenheira de Controle e Automação, professora de cursos técnicos e superiores e doutoranda. Ela também é palestrante na área de Internet das Coisas (IoT) e está sempre por dentro das últimas novidades das plaquinhas microcontroladas. Recentemente, Gedeane participou da ConFLOSS 2025, apresentando a palestra “Hardware Hacking — Porque Nem Só de Software Vive a Insegurança da IoT”, sobre a segurança física dos dispositivos conectados. Para acompanhar o trabalho de Gedeane, você pode segui-la no Instagram, onde compartilha suas experiências e projetos na área de tecnologia e inovação. Confira os livros dela aqui embaixo:

Nas linhas do Arduino Arduino Fashion Geek Nas linhas do Arduino Plus

E você também vai precisar de um kit iniciante em Arduino, que você encontra na RoboCore ou MakerHero. Links abaixo:

Robocore
MakerHero

Mas se você não quiser gastar dinheiro com um kit agora, também pode fazer seus experimentos usando a plataforma Tinkercad:

Tinkercad

Se depois de tudo isso você ainda se perguntar: “O que isso tudo tem a ver com o hacking?”
Eu lhe responderei:

Elementar, meu caro leitor:
O Capitão Crunch (apelido de John Draper) foi um hacker histórico que descobriu que um apito de brinquedo, dado como brinde no cereal Cap’n Crunch, emitia exatamente a frequência de 2600 Hz. Essa frequência podia ser usada para enganar sistemas telefônicos da época e fazer ligações de graça. Ele ficou conhecido como um dos primeiros phone phreakers, antecessores dos hackers modernos.
pito do Capitão Crunch

Ou seja, você pode hackear com qualquer coisa. Você só precisa entender algo o suficiente para procurar formas não-convencionais de usar, combinar ou testar. É perguntar “e se…?”, desmontar a caixa-preta e montar de volta de um jeito inesperado. Hacking é curiosidade com método.

Agora é sua vez: acenda um LED, monte uma porta AND no Arduino ou brinque no Tinkercad e veja até onde a curiosidade te leva.